quarta-feira, 26 de junho de 2013

Desaparecida

Bem, esta semana vou para o algarve, e para a semana acho que vou para casa da minha tia, então não vou ter muito tempo para publicar o próximo capitulo :( mas daqui a umas três semanas tenho todo o tempo do mundo e prometo que ponho mais que um :D obrigada pela paciência!! Beijinhos

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Capitulo 6 - "Sei tudo."

       O mesmo sonho, noite após noite, sempre as mesmas caras desfocadas, sempre os mesmos olhares desesperantes, sempre a mesma sensação de vazio... Sempre tudo mais intenso.
       Já há uma semana que não dormia como deve de ser. Acordava de madrugada e era uma luta com os lençóis de tantas voltas que dava para (tentar) voltar a adormecer. A minha mãe já tinha dado conta das minhas olheiras, e às vezes dizia que me tinha ouvido gritar, mas disse-lhe que era apenas cansaço, por causa dos testes, e isso se estava a apoderar dos meus sonhos... O que não era totalmente mentira... Só que os "sonhos" não eram sobre a escola propriamente dita. Para agravar a minha situação, tinham descoberto uma praga no refugio. Ratazanas. Até parece que nunca tinham visto uma ratazana! Só que como foi um menino da equipa de futebol que descobriu, aqueles cujos pais são ricos, então tiveram logo de fazer uma limpeza total ao local.... Vá-se lá saber para que é que o rapaz queria aquilo mas pronto... E como resultado tivemos (nós, os refugiados) de almoçar no refeitório durante uma semana.
       Afonso, um rapaz e mais uma rapariga sentavam-se sempre juntos. O rapaz (que pelo que Anita me diz, chama-se Gabriel) e a rapariga (Inês) são bastante chegados. Estão sempre a rir e aos beijinhos, e com atitudes cúmplices de namorados, já Afonso está sempre mais calado, apesar de estar sempre com um sorriso (lindo de morrer, devo dizer) nos lábios.
       Sabem aquela coisa nada engraçada que os seres humanos têm de quando uma pessoa sorri a outra sorri também? Ou neste caso, quando olhamos para alguém.... Esse alguém olha de volta!
       Afonso esboçou-me um leve sorriso como quem dizia "apanhei-te"... Como não sabia se era mesmo para mim (o mais provável) olhei disfarçadamente para trás mas, surpresa das surpresas, eu estava na ultima fila de mesas. Estranho, no mínimo. Se eu não fosse a estranha da miúda invisível talvez fosse lá pedir-lhe explicações ou assim, mas esse era o problema, eu era a estranha da miúda invisível.
       Quando deu o toque de saída da minha última aula da tarde saí disparada, tão disparada que não reparei que Afonso estava no meu caminho e fui de contra a ele.
       -Desculpa! - Ele lançou outro daqueles sorrisos marotos que me começavam a enervar.
       -Não tenho mel...
       -Não sou uma abelha. - Lancei-lhe o sorriso de volta e depois de fintar mais umas pessoas lá consegui sair da sala.
       Graças ao meu pequeno incidente consegui perder o autocarro, o que podia significar duas coisas: Ir a pé ou esperar eternamente pela minha mãe. Sinceramente não me apetecia muito ir a pé.
       *Tuuuu.... Tuuu... Daqui fala Antónia, de momento não posso atender, mas assim que estiver disponível retorno a sua chamada. Piiiiiiii." Bonito, a minha mãe ainda não tinha saído do trabalho, mas também mais meia hora e ela tinha chegado, por isso achei melhor esperar.. Óbvio que não ia ficar na entrada da escola, sozinha, à espera da minha mãe, então decidi ir explorar os bosques... uma das coisas que eu amava nesta escola é que era rodeado por vastos campos de relva, com algumas árvores e banquinhos de madeira. Visto que tinha todo o tempo do mundo decidi ir para lá dessas árvores... Ver se, quem sabe, descobria alguma coisa interessante.
       Depois de muito andar descobri um lago, onde acredito que ninguém vá, porque está incrivelmente limpo, e situa-se numa clareira, onde acredito que ninguém se arrisca a ir... Excepto eu, porque eu gosto de arriscar. Mal cheguei à clareira comecei a ter dê-já-vus. Imagens familiares apareciam na minha mente. Olhares, toques, sons... Senti-me zonza e deixei-me cair de joelhos no chão. Podia jurar que já tinha ali estado! De repente um sentimento de terror e alivio apoderou-se de mim, o vazio começou a encher-se, cores, traços e palavras sobrepostas corriam pela minha mente. Tentei-me esforçar para decifrar algumas delas... "Porque é que olhas-te para o colar, Afonso?" o que? Colar? Levei a mão ao peito e senti o delicado pendente a brilhar e a irradiar calor na minha mão. " Queres mesmo saber o que tu és?", "não somos mesmo humanos", "guerra entre os dois lados do céu", "isso faz de nós uma espécie de anjos", "És descendente dum romance proibido entre um humano e um anjo", "Não Gabriel, é muito perigoso!", "Corre", "Concentra-te nos meus olhos...", "NÃÃÃO!!!"
       -NÃO! Afonso! - senti o meu grito a ecoar pelo vazio da clareira.
       Agora lembrava-me de tudo! O sonho não era apenas um sonho! O sonho era verdadeiro, tinha acontecido, e eu sentei-me realmente ao lado de Afonso! O grito era dele! E quem me segurava era Gabriel! E a rapariga era Inês! Como é que me pode escapar tudo durante 3 meses? O vazio começava-se a preencher e pergunta invadiam a minha mente como uma injeção de alguma substância tóxica que me queimava os músculos à medida que invadia o meu cérebro. Deixei-me estar deitada no chão mais alguns minutos a tentar assimilar tudo o que tinha acabado de acontecer, a tentar perceber se era verdade ou não... A tentar perceber que raio é que se passava comigo e à minha volta! Senti o meu bolso a vibrar e com muita dificuldade consegui atender o telemóvel.
       -Sim, mãe?
       -Saí agora do trabalho. Ligaste-me para te ir buscar?
       -Sim... Podes vir?
       -Claro, mais 10 minutos e estou ai! Estás bem? Estás com uma voz estranha...
       Oh, acabei de descobrir que recentemente me apagaram a memória ou algo do género, descendo duma linhagem de semi-anjos, a minha qualquercoisa-avó envolveu-se sexualmente com um anjo, sentei-me ao lado do melhor borracho da turma, que por acaso me contou isto e tentou impedir que me apagassem a memória, ah, já mencionei que ele é um anjo? Pois, ele e os seus amigos! Ah, e querem o meu colar, que vá-se lá saber porque, só eu e é que lhe consigo tocar e usar o que quer que seja que ele tem para ser usado!!!
       -'Tá, estou só cansada, espero por ti na entrada da escola, beijinhos e até já.
       Pus-me em pé com dificuldade e cambaleei até fora da mini-floresta. Depois de esperar 5 minutos sentada no muro da escola a minha mãe chegou e fomos para casa. Acho que ela foi a falar comigo o caminho todo... Acho. Cheguei a casa, disse que não estava com vontade de jantar, e devia estar mesmo com cara de morta para a minha mãe aceitar sem me fazer perguntas. Meti a água a correr e enfiei-me dentro da banheira. Os banhos eram as únicas coisas que me ajudavam a relaxar. Era como se fossem um universo paralelo, onde todos os problemas desapareciam e ficava só eu, a espuma, o vapor e a água.
       Não conseguia dormir então fui-me por a ouvir musica com os phones, para ver se a minha mãe não acordava, quando tive a brilhante (ou não) ideia de ver se tinha o numero do Afonso no telemóvel... Adriana M, Adriana J, Afonso... Será que era ele? Bem, se não fosse, o que era o pior que podia acontecer?
       *Sei tudo.*
       Passados 2 minutos
       *Tudo o que? De que estás a falar?*
       O meu coração começou a bater muito forte, e, sem motivo aparente, comecei a chorar.
       *T.U.D.O. Tu sabes do que estou a falar*
       *Não faças nada precipitado. Desculpa por tudo*
       "Desculpa por tudo"?! A sério?! Acho que dada a situação eu merecia mais do que um desculpa por tudo! E com isso comecei a chorar ainda mais.
       Fiquei a chorar baixinho debaixo dos lençóis quando ouvi um barulho forte e seco. Dei um salto tão grande que o Ivan saltou para o chão (novamente!). Quando olhei para a janela vi Afonso com um ar muito sério a olhar para mim e tive de morder o lábio para não acordar a vizinhança com um grito descontrolado.
       -Afonso?! O que é que estás aqui a fazer?!
       -Mas vais-me deixar aqui ao frio ou posso entrar?

domingo, 16 de junho de 2013

Capitulo 5 - 3 meses depois

       *3 meses depois*
       "NÃÃÃO". Levantei-me sobressaltada atirando com o Ivan para o meio do chão (sim, eu tenho um peluche chamado Ivan). Rezei para que não tivesse gritado daquela vez... Os meus pesadelos estavam a tornar-se cada vez mais intensos, ou melhor, o meu pesadelo. Tinha-se repetido vezes sem conta nos últimos 3 meses. A minha mãe dizia que era porque estava numa escola nova, e não conhecia ninguém, mas eu acreditava que era mais que isso. 
       Era sempre o mesmo pesadelo (e nada tinha a ver com a escola). Um rapaz de joelhos, a olhar para mim com tanto ou mais medo do que o que eu sentia. Não lhe conseguia ver as feições, apenas os seus olhos, que era tão nítidos como se tivessem a meros centímetros dos meus. Depois um outro rapaz, mas este agarrava-me pelos ombros, e o olhar dele era tão terrivelmente assustador que não conseguia manter as pernas fortes, apenas me sentia a desfazer-me como uma daquelas pedras de areia que se desintegram quando são agarradas. Também esse rapaz tinha os olhos extremamente nítidos, mas era compreensível, visto que a sua cara se encontrava a meros centímetros da minha. Também não lhe conseguia ver as feições da cara. Havia também uma rapariga, junto ao primeiro rapaz. Os seus olhos diziam "desculpa", mas ao mesmo tempo acredito que ela sabia que o que estava a acontecer era inevitável, e de certa forma, o correto. Depois o rapaz que me agarrava olhava para mim, o rapaz de joelhos largava um grito rouco cheio de mágoa e desespero e eu acordava. Acordava com um vazio na mente, algo que me escapava e eu não conseguia perceber porque. Cada vez o sonho era mais nítido, cada vez o vazio era mais intenso.
       Levantei-me e fui tomar um banho a ver se passava a dor de cabeça, que devia ter sido uma mistura da minha falta de sono e dos pesadelos. Tenho de admitir que quase adormeci na banheira, mas passei-me com água fria e sai do duche. Desembaracei os cabelos ruivos, passei lápis nos olhos e corretor de olheiras para não preocupar a minha mãe, que por acaso já me tinha preparado as suas famosas tostas de mel com queijo (não julguem pelos ingredientes, as tostas são mesmo deliciosas)
       -Carolina, estás bem?
       -Claro mãe, porque não haveria de estar? -Tentei forçar um sorriso, sem muito sucesso, devo dizer.
       -Parece que dormiste mal... - Bingo mãe. - Tens a certeza que está tudo bem na escola?
       -Sim mãe, não te preocupes. - Fiz-lhe um sorriso, desta vez sincero, sabia bem alguém se preocupar comigo. Dei-lhe um beijinho na testa e sai.
       A minha primeira semana tinha sido horrível, e sinceramente não me consigo lembrar muito bem do que aconteceu... A minha mãe disse que deve ser o meu cérebro a tentar livrar-se das coisas más. Só sei que comi sozinha todos os dias, e que foi ai que os meus pesadelos começaram. Ultimamente tenho-me sentado ao pé duma rapariga chamada Anita. Apesar do nome fazer lembrar uma miúda de vestidinhos às flores, e cabelo loiro entrançado, ela é exactamente o oposto. Tem cabelo preto, escortanhado, que lhe dá um pouco abaixo dos ombros. Não é daquelas raparigas super góticas, que mais parecem fantasmas, mas não gosta de andar com roupas coloridas. Apesar do aspecto estranho e de dizerem que ela é lésbica, ela consegue ser boa pessoa, e debaixo do  batom vermelho, é bastante bonita. Não somos melhores amigas, mas é uma boa amiga. Provavelmente a única que tenho... Ou pelo menos a única que me consegue arrancar um sorriso sincero. Sentamo-nos juntas, visto que somos da mesma turma, e quando a hora de almoço dela não coincidia com a do namorado, ela almoçava comigo. Eu passava os intervalos sozinha, normalmente a ler ou a escrever, numa zona que muitos chamavam o "refugio". Eu podia perceber porque. Encontrava-se atrás das bancadas do campo, onde ninguém se metia na vida de ninguém e podíamos estar refugiados de quem não nos achava bem vindos na zona publica da escola. Lá havia de tudo, pessoas a comerem-se como se estivessem sozinhos, rapazes a construir robôs, raparigas a fazer olimpíadas da matemática... Enfim, de tudo um pouco, e o melhor de tudo é que ninguém te julgava por aquilo que eras ou deixavas de ser.
       A hora de almoço acabou e fui para a aula com a stora Miriam... Aquela mulher punha-me os pelos dos braços levantados só de olhar para mim!
       Estava na ultima fila, sentada ao lado da Anita, quando ela me passou discretamente um bilhete para cima do meu caderno. 
       "pq e q te deixas te de sentar ao lado ali do bonzão? :o". Ham? Será que tinha perdido o juízo de vez?
       "qual bonzão?". Passei-lhe de novo o papel...
       Ela leu e revirou os olhos e apontou para um rapaz na mesa ao lado da nossa. Acho que o rapaz se chamava Afonso, mas não tinha a certeza.
       "wtf?! eu nunca me sentei ao lado dele xD"
       "andas te a fumar o q? sentas te sim :o na 1ª semana.......".
       Olhei para ela e fiz um olhar confuso. Não me lembrava daquilo, e se bem a conheço ela é que tinha andado a fumar alguma coisa...
       "n me lembro de nd disso...."
       "hum estranho, podia jurar q sim"
       "pois, mas n...."
       Ela encolheu os ombros e continuamos a prestar atenção a arrepiante da Stora Miriam. Algo nela me parecia terrivelmente errado, mas agora também não era isso que me estava a ocupar a mente. A pseudo-conversa com a Anita tinha-me deixado novamente aquele vazio na mente. É verdade que não me lembrava de muita coisa daquela primeira semana, mas era possível ter-me sentado ao pé duma pessoa e nem me lembrar? Sentia a cabeça em papa.
       As aulas finalmente acabaram e eu voltei para casa. Não conseguia parar de pensar naquilo, e aposto que já tinha lido mais de cem vezes o papel... O que é que se estava a passar? Sabia que algo estava errado, mas não conseguia perceber porque, nem o que, e isso estava-me a deixar extremamente impaciente e confusa. Como estava exausta decidi ir deitar-me, e como era de esperar, os pesadelos voltaram...
       

terça-feira, 4 de junho de 2013

Capitulo 4 (parte 2) - "Depois disso: Nada."

Primeiro queria só dizer que me enganei, na parte 1 do capitulo falei do "Daniel" quando na verdade a personagem é "Gabriel", peço desculpa o erra, já corrigi :)
E obrigada Diana Lourenço por teres dado conta :D

       Olhei para ele, à espera que continuasse.
       -Sabes que no final não vais acreditar e ainda te vais rir de mim não sabes?
       -Tenta!
       Ele suspirou enquanto fechava os olhos e ganhava coragem para começar. Tudo iria finalmente fazer sentido... Será que era uma brincadeira e eles estavam todos a fazer torça da rapariga nova? Queria acreditar que não era isso, que desta vez era algo em que eu realmente importava e fazia a diferença.
       -Nós não somos mesmo humanos, e sim, está relacionado com o teu colar. - Tive vontade de rir, mas provavelmente isso fá-lo-ia parar, e eu não queria isso, então controlei-me e deixei-o continuar.
       »Há muitos anos atrás houve uma guerra entre os dois lados do céu, ou se preferires, entre o lado "bom" e o lado "mau"... Na verdade não há lado bom nem mau, apenas lados que defendem ideais diferentes... O lado de Lúcifer e o lado de Deus. Eu, o Gabriel e a Inês estamos do lado de Deus... Claro que isto implica muito mais história, e não é tudo preto no branco como te estou a dizer, mas no geral é isto...
       Não sabia o que dizer, ele devia estar a gozar com a minha cara, só pode! Mas o olhar dele era tão profundo... Aquele olhar... Como era possível ele estar a mentir-me? Ele deve ter percebido que eu estava dividida entre o acreditar e o não acreditar e revirou os olhos.
       -Eu disse que não ias acreditar! Como é que pudemos ser tão descuidados? Nunca nos devíamos ter aproximado de ti desta maneira... E vir para aqui?! Brilhante ideia Afonso. - Ele estava a falar mais com ele do que comigo...
       -Agora não há volta a dar, continua... Então o que é que isso faz de vocês? E de mim? E o que é que o colar têm a ver com essa história toda? E porque é que a Inês se sentiu mal e a culpa era minha? Porque é que o Gabriel não gosta de mim?
       -Ei, desacelera! Então, isso faz de nós uma espécie de anjos... Não é bem assim que nos chamamos lá em cima mas penso que cá na Terra esse é o equivalente àquilo que nós somos. O que tu és não nos disseram, mas uma nova guerra está prestes a começar, e o teu colar é a chave. Nós somos uma espécie de anjos guarda, braço direito de Deus, e viemos para a Terra para proteger o colar, que de certa forma só pode ser usado por ti. - Ele tocou no colar, e este começou a brilhar e provocou uma espécie de faisca quando Afonso lhe tocou.
       -Oh meu deus! Mas isto não acontece quando as outras pessoas lhe toca, só contigo!
       -Comigo e com os outros anjos, porque só nós é que pudemos usar, ou sabemos usar a força que há dentro desse colar... Mas, por algum motivo desconhecido, só tu lhe consegues tocar. Ah, e a Inês sentiu-se mal porque ela é uma espécie de vidente... Consegue pressentir o mal. Ou melhor, alguém vindo do lado de Lúcifer... A culpa não foi tua, mas visto que estamos aqui por causa de ti, isso relaciona-te de certa maneira com a culpa... E o Gabriel não gosta de ti porque ele não apoia as ligações de amizade entre anjos e humanos, ele acha mal que a Inês se dê contigo, e como a Inês é a companheira dele, de certa maneira tem de lhe obedecer.... Quer dizer, não tem, mas claro que ela liga mais à opinião do seu namorado, ou lá como vocês chamam, do que à opinião de uma humana... Sem ofensa.
       Oh meu deus, não queria acreditar no que ele me estava a dizer... Como? Perguntas e perguntas atropelavam-se na minha mente, e senti-me a cair numa dormência reconfortante, até que uns braços fortes me agarraram a caminho do chão.
       -Estás bem? - Ele tinhas os olhos muito abertos, carregados de pânico...
       -Sim, estou, é só que é demasiada informação! Como é que é possível nunca ter sabido de nada!
       -És descendente dum romance proibido entre um humano e um anjo... Uma das tuas antepassadas era um anjo...
       -Isso faz de mim...? - Olhei para ele, tive de olhar para cima, pois ele encontrava-se demasiado próximo. Por muito que não quisesse, e não sabia bem porque, sabia que os meus olhos brilhavam.
       -Sim, uma semi-anjo, ou algo parecido...
       -Oh, ele está aqui! Andavamos à tua procura Afon....
       Gabriel olhou para mim com os olhos muito abertos, de seguida serrou os punhos. Olhei para Afonso a tentar procurar reações, e saber o que se passava, mas ele já estava também de punhos cerrados, há minha frente. Estavam os dois como cães raivosos a espumar da boca, e entre os seus olhos quase que se conseguia sentir a tensão a passar no ar.
       -Nem penses nisso! - Afonso rangia os dentes, e tinha os musculos das costas contraidos, o que me fez correr um arrepiu pela espinha.
       -Não Gabriel, é muito perigoso! - Inês parecia frágil, e também ela assustada, o que me fez temer o pior.
       Corre, ouvi a voz de Afonso como já tinha ouvido antes e um impulso levou as minhas pernas a correrem, mas em menos de dois segundos senti umas mãos fortes a esmagarem-me os ossos.
       -Inês, agarra-o!
       -Não consigo, sabes que ele não vai deixar que lhe toques! Tu consegues sentir que o que ele sente por ela o ultrapassa, mesmo que ele não admita nem para ele próprio. 
       -Então vamos ter de resolver isto à força! - Gabriel virou-se para Afonso, abriu muito uma das mãos, e com um simples movimento deitou Afonso ao chão, que se encontrava a largos metros de distância. Ele ficou de joelhos, a tremer, como se uma força o impedisse de levantar, mas ele lutasse contra ela com tudo o que tinha. Os olhos dele cruzaram-se, por breves momentos, com os meus, e os seus lábios sussurraram desculpa.
       Olhei para Gabriel que me agarrava pelos ombros, e encostou a sua cara muito perto da minha, tentei fugir, mas rapidamente percebi que de nada me ia servir. 
       -Agora olha-me nos olhos. Concentra-te nos meus olhos...
       -NÃÃÃO!!!
       E a última coisa que ouvi foi o grito de Afonso. Depois disso: Nada.